Segundo o parlamentar, é hora de "soltar" o Brasil
Lira recebeu 464 votos | Foto: Ton Molina/FotoArena/Estadão Conteúdo |
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), falou na noite desta quarta-feira, 1º de junho, após ser reeleito presidente da Câmara. Ele recebeu 464 votos - um recorde. Segundo o parlamentar, agora é a hora de "explodir" o Brasil.
Leia o discurso na íntegra
"Caros deputados e ilustres deputados!
Gostaria de começar por dizer um grande obrigado a todos os deputados que votaram em mim de volta para o cargo de Presidente desta Câmara.
Mais do que um reconhecimento do dinamismo trabalhista, o resultado dessas eleições é uma demonstração concreta de que na boa política é possível discordar, debater, mas, em última instância, construir consensos, decidir e agir, sempre a favor do Brasil. .
Essa foi a marca registrada de nossa produção legislativa recorde - as histórias mudaram. Porém, a celeridade sempre foi precedida de uma boa discussão nas comissões entre os dirigentes e por fim no plenário soberano.
Todos tiveram voz aqui - esse foi o meu compromisso fundamental, que agora pretendo renovar com cada um de vocês, deputados de legislaturas passadas e deputados que iniciam seus mandatos.
Esta tribuna aqui permanecerá aberta, pluralista e sempre ampliará os anseios de cada cidadão que representamos.
Sinto-me honrado pela confiança depositada em mim através destes 464 votos. Resultado que me impulsiona a continuar a apostar na rápida concretização de projectos de interesse do país, respeitando toda a nossa dinâmica interna de governação e fiel à regra de que nesta Casa prevalece sempre a vontade da maioria, sem nunca cercear o direitos da minoria.
Continuaremos comprometidos com a democracia e, para isso, serei uma voz forte pelos privilégios e pela liberdade de expressão de cada deputado, pois devemos exercer plenamente nosso mandato.
Meus amigos e minha namorada!
Este 1º de fevereiro de 2023 representa muito mais do que apenas a abertura de uma nova legislatura. É muito mais do que um ritual retomar os trabalhos nesta Casa do Povo.
Este 1º de fevereiro de 2023 é a prova de que o Brasil é uma democracia madura, preparada e criada pela esmagadora maioria do povo que luta e defende a liberdade, o direito de ser ouvido, a esperança de um futuro próspero e de uma vida melhor.
Este Brasil moderno exige responsabilidade de todos no espectro social: ricos e pobres; classe média; empresários de todas as esferas da vida; trabalhadores de todas as categorias; entidades sindicais rurais e urbanas; ambiente cultural e desportivo; crentes de todas as religiões sem distinção; crianças, jovens e adultos; homens, mulheres e LGBTQIA+; branco, pardo, preto, nativo...
Enfim, um Brasil diverso e multicultural só é possível porque democrático.
Não há mais lugar neste Brasil para quem ataca os poderes que simbolizam nossa democracia.
Esta Casa não aceitará, advogará ou apoiará qualquer ato, discurso ou manifestação que ameace a democracia. Quem assim agir enfrentará a rejeição deste Parlamento, a rejeição do povo brasileiro e o rigor da lei. A severidade da lei será aplicada aos que saquearam, vandalizaram e desgraçaram o povo brasileiro.
Hoje estamos presenciando eleições em duas casas federais e a reabertura dos trabalhos do judiciário. Com um executivo já em funcionamento, hoje é a prova do pleno funcionamento da nossa democracia. Não é a confusão de algumas pessoas que o atacam materialmente que vai tirar sua presença da vida, do dia a dia e do espírito dos brasileiros.
Aos vândalos e instrumentistas do caos que provocou o passado dia 8 de Janeiro, digo:
No Brasil, nenhum regime político prosperará fora da democracia.
Jamais haverá um Brasil sem eleições livres e sem representantes escolhidos pelo voto popular.
Jamais haverá um Brasil sem liberdade.
E para preservar esses valores democráticos, todos – classe política, judiciário, imprensa e setores sociais e empresariais – devem ser autocríticos. O processo de criminalização da política, iniciado há quase dez anos, minou a representatividade de diversas instituições e de seus representantes.
Eles transformaram alegações que deveriam ter sido investigadas sob o disfarce da lei em verdadeiras execuções públicas. Empresas foram destruídas, empregos foram perdidos, reputações foram destruídas.
Essas ações muitas vezes burlaram as leis, o direito de defesa e desencadearam um clima hostil em relação à política. E não estou defendendo o mal cometido aqui.
Quem faz o mal deve pagar, responder por seus crimes ou provar sua inocência e tem o direito de seguir em frente de cabeça erguida.
Nesse período, assistimos a um acirramento de opiniões que transformava amigos em inimigos, dividia famílias, causava mortes e ameaçava atividades e vidas de entidades públicas.
Colocar a culpa desse clima de ódio apenas naqueles que estão indignados com a política é subestimar o problema. Todos devemos assumir nossa responsabilidade, ser autocríticos e trabalhar para mudar permanentemente esse ambiente desastroso.
Não devemos mais tolerar que presidentes, parlamentares, ministros, líderes políticos ou qualquer cidadão sejam ameaçados física ou virtualmente por radicais, independentemente de seu lado ideológico, apenas por diferenças de opinião.
A essência dos brasileiros – nossa civilidade, educação e respeito pelos outros – não pode ser perdida diante da crescente polarização percebida. Construir um relacionamento social saudável, mesmo com claras divergências de opinião, é tarefa de todos nós.
É hora de deixar o Brasil ir. Liberar relacionamentos. E os poderes republicanos, pilares da nossa democracia, devem dar o exemplo. É hora de ver cada um em seu quadrado constitucional – para vermos mais uma vez os Poderes se articulando, interagindo com a exata clareza onde termina o espaço de um e começa o do outro.
Vamos continuar trabalhando, ouvir as ruas, assumir a responsabilidade e não cometer os erros do passado para que o fatídico 8 de janeiro não volte a acontecer. Nunca.
Este momento pede um debate de ideias para aprofundar reformas importantes para o Brasil. Refazemos as ligações. E o que aconteceu aqui hoje, nestas eleições históricas no Bundestag, é um exemplo de como é possível, com a coexistência pacífica dos opostos, com civilização e espírito desarmado, sem abandonar princípios e ideologias.
Não é mais possível usurpar privilégios, interferir em decisões amplamente discutidas, votadas e aprovadas. O Legislativo é e continuará sendo o poder moderador da República.
Não é mais possível que as decisões tomadas nesta casa sejam constantemente aprovadas pelo tribunal e aprovadas sem respaldo legal. Resta-nos, investidos de poder popular, aplicar todos os dias a boa política do entendimento, da reconciliação e do equilíbrio.
Não há lugar para super-heróis em uma democracia.
É feito por homens e mulheres comuns, como todos nós. E o que nos obriga a ocupar esse espaço de decisão é o poder dos votos, a delegação que recebemos para expressar o pensamento de nossos eleitores.
Então é hora de olhar para frente. Até porque o compromisso com o Brasil – e com os estados, municípios e cada brasileiro que representamos – é o que legitima nossos mandatos.
Que tenhamos um legislativo produtivo e participativo, fiel ao princípio majoritário.
Esta Câmara dos Comuns tem um enorme desafio pela frente: rever nosso modelo tributário complexo e às vezes injusto.
Não tenho dúvidas de que vamos divergir, mas também vamos encontrar pontos em comum e proporcionar aos brasileiros medidas essenciais para o desenvolvimento econômico e social.
Com cada potência fazendo a sua parte, o Brasil estará caminhando para um futuro próspero.
Queremos um executivo sólido, dinâmico, que saiba negociar e gerir e que cumpra o seu papel.
Queremos um Judiciário forte, guardião da constituição, consciente de suas responsabilidades e cumprindo seu papel.
Teremos um legislativo forte com uma Câmara dos Deputados autônoma que cumprirá seu papel junto ao povo brasileiro, representado por seus 513 deputados eleitos democraticamente pelo voto popular.
Só assim a democracia brasileira continuará se fortalecendo.
E aqui quero agradecer as forças armadas e seu respeito pela constituição. Apesar de possíveis omissões e erros pontuais ocorridos no dia 8 de janeiro e que estão sendo investigados, as Forças Armadas como um todo reconhecem a obediência ao poder civil eleito democraticamente em eleições livres, independentemente da linha política. É assim que tem que ser. E será.
vamos esperar! Enormes desafios nos esperam. Após três décadas e meia de sua implantação, precisamos fortalecer o SUS – tão essencial nos últimos anos da pandemia. Garantir os direitos das minorias, garantir educação de qualidade de acordo com o mercado de trabalho deste novo milênio. Sabemos que a colcha é curta e as necessidades sociais são enormes. Mas é exatamente por isso que o Brasil conta conosco. Somos 513 cérebros que, com maturidade, diferentes perspectivas e trajetórias de vida, ajudarão a construir soluções que evitem o populismo fiscal e melhorem a vida dos brasileiros.
No interior de Alagoas, vi mulheres e homens cozinhando com lenha devido ao alto preço do gás. Também presenciei, em palestras no Faria Lima, a defesa da atual política de preços da Petrobras. Este é o Brasil continental, diverso, mas devemos encontrar convergências e soluções que sirvam a todos.
É nosso dever caminhar nesta terra com os ouvidos abertos, legitimar todas as queixas, todos os pontos de vista e trazê-los para nossas discussões. Esta Casa terá sucesso porque encontrará um ponto de equilíbrio, um meio termo, um caminho que concilia o social e o econômico.
O mesmo ocorre quando falamos de meio ambiente. Sabemos o valor de proteger nossa Amazônia, o Pantanal, a Mata Atlântica, nossos rios, lagos e mares. No entanto, devemos olhar também para as pessoas que dependem do uso adequado dessas regiões. Nossos povos indígenas precisam da mão protetora do Estado, da ajuda e da solidariedade de todos.
Da mesma forma, devemos olhar com responsabilidade para quem produz, planta e colhe o nosso alimento – o agro, do qual nos orgulhamos e que nos tornou o celeiro do mundo.
Estabelecer uma convivência pacífica, justa, protetora e desenvolvimentista é um desafio que iremos discutir e buscar soluções.
Meus amigos e minha namorada.
Posso dizer-lhe que vale a pena cada dia no escritório. O resultado do que estamos pensando aqui está presente na vida de cada brasileiro, em cada cidade, vila, vila, comunidade.
Nesta câmara vamos discutir ciência, tecnologia, meio ambiente, cultura, educação, saúde, direitos humanos, desenvolvimento, indústria, comércio, emprego, renda, ações sociais e todos os assuntos de interesse da sociedade brasileira.
O trabalho é cansativo, muitas vezes criticado, mas muito gratificante. Participamos da construção da história deste país. E com dever cívico devemos exercer o nosso mandato todos os dias.
Mais uma vez, agradeço aos deputados e representantes pela confiança em mim depositada.
Vamos ao trabalho.
E viva a democracia brasileira.
Viva o Brasil."
Fonte: revistaoeste